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Carta 26

Prezado Augusto Boal   Em primeiro lugar gostaria de expor minha admiração pelo Mestre e pela Poética do Oprimido. Vivi em plena ditadura militar no Brasil, desde a infância até o início de minha vida universitária. Entre os 16 e 17 anos minha consciência política foi sendo construída e a paixão por educação e teatro sendo sedimentada. A leitura de As veias abertas da América Latina, Teatro do Oprimido e Pedagogia do Oprimido me levaram a uma imediata identificação com a luta social em um Brasil de repressão e censura. Curtia muito a MPB e música latino americana com Victor Jara, Mercedes Sosa e Violeta Parra. Exercitei a militância política inicialmente no Movimento Estudantil e posteriormente no Movimento Sindical enquanto que a possibilidade do fazer político por meio do teatro ficou em segundo plano. No entanto, desde meu primeiro contato prático com a metodologia do TO ocorrido na Oficina de Multiplicadores minha vida se transformou.   O Brasil estava em pleno período de

Carta 25

Fercal - DF, 28 de Abril de 2020 Caro boal,   Hoje completa 5 anos desde que eu ministrei a primeira oficina de teatro utilizando as metodologias do teatro do oprimido na comunidade do queima lençol. Esta comunidade fica situada na zona leste da Fercal - DF ao lado de uma grande fábrica de cimento conhecida como CIPLAN. A Fercal também possui outras fábricas e entre elas algumas usinas de asfalto.  Essa pequena cidadezinha fica a 35 Km da capital federal e é a grande fonte de renda para o governo, pois os valores dos impostos pagos por essas empresas não são  baixos, entretanto, a  vida dos moradores é muito precária, eles não têm acesso a saneamento básico, transporte público de qualidade, em algumas comunidades não tem água doce, pistas asfaltadas, muito menos energia elétrica. Eu, como um morador desta cidade, que tiver possibilidade de estudar artes cênicas e a honra de ter estudado teatro do oprimido, resolvi trazer para minha comunidade todo conhecimento que adquiri.

Carta 24

Boa tarde, tenho tanta coisa para lhe falar, mas antes vou me apresentar, me chamo Yuri, sou estudante de artes cênicas. Bom estava pensando em fazer um projeto e gostaria de saber de sua opinião sobre. Como todos estamos em quarentena isolados temos muito para debatermos, principalmente sobre política e saúde mundial e até mesmo sobre nosso dia a dia em isolamento, poderíamos reunir um grupo de pessoas, distribuir esses temas e gravar alguns depoimentos e soltar aos poucos nas redes sociais, não só para fazer barulho, mas também para chegar em algum lugar, essa seria a minha ideia. Tenho tanto para te falar sobre a política de nosso país, tudo está um caos em meu ponto de vista, a política está se desintegrando aos poucos, porque também não temos um líder comprometido cem por cento em presidir o nosso país na situação que se encontra, e estamos chegando ao um ponto crítico social, social econômico e de saúde. Espero que aos poucos tudo se resolva, que nosso poder econômico se

Carta 23

Ao Sr. Augusto Boal. Fui muito influenciado por suas teses sobre teatro do Oprimido e dedico meu tempo e estudos a multiplicar esse discurso na sociedade. A cinco anos aproximadamente, venho trabalhando numa certa metodologia de reeducação social utilizando dos princípios básicos do Teatro do Oprimido. Devo dizer que tenho tido resultados bem otimistas em comparação ao que esperava quando o começamos. Tudo se inicia num momento em que discursos de ódio direcionado às “minorias” podiam até ser vistas como um típico exagero, mas a qualquer reclamação, levante ou resistência contra essas injúrias era prontamente apontada de “mimimi” (uma onomatopeia muito utilizada hoje para dizer que a pessoa reclama sem um motivo minimamente convincente). Isso ter acontecido está intrinsecamente ligado aos ideais de um homem que subiu à liderança de nosso governo nacional e trazia consigo pensamentos ignorantes sobre as castas mais baixas, porém o efeito no povo foi de um sentimento nacionalista que

Carta 22

Estimado Augusto Boal   Após ter tido contato com você no CTO-RJ (Centro de Teatro do Oprimido) e as técnicas do Teatro do Oprimido, me engajei e identifiquei de tal forma que procurei levar a prática desses ensinamentos para meu fazer profissional usando exercícios, jogos e técnicas teatrais elaboradas por você, este grande teatrólogo que tanto nos ensina e causa orgulho. Nós multiplicadores, sentimo-nos representados, uma vez que democratiza a arte teatral permitindo a inclusão e dando voz aos menos favorecidos, aliando teatro à ação social, oportunizando que realidades sejam transformadas. Por tudo isto e mais, me tornei, há cinco anos, uma multiplicadora, desenvolvendo o trabalho em dois grupos distintos na cidade do Rio de Janeiro.              O primeiro grupo ”Ó Nós Aqui” focado na Educação, reúne pessoas portadoras de alguma deficiência, interagindo com os ditos “normais”, colocando suas necessidades, angústias, esperanças na técnica do Teatro Imagem que foi escolhida por

Carta 21

Caro Augusto Boal                No meio de um momento super complicado, venho lhe contar sobre as coisas que nos vem acontecendo, que de fato consiste em um tempo opressor, tempo opressor no qual se conclui no meio de tantas situações que as pessoas do mundo inteiro estão passando, muitos não conseguem enfrentar, pois assim estão vivendo o fim de suas vidas, ou de seus empregos, passando pelo desespero de ter que ver suas famílias se destruírem, por causa de um vírus que chegou e até agora não foi embora e só anda se alastrando na vida de mais humanos, independente da raça, condição ou origem. Em um tempo opressor que não é só quem a sociedade dita como inferior que está sentindo de fato a opressão. Boal esse vírus veio para também mostrar que todos caminham no mesmo barco e todos estão sujeitos a sofrer e passar por dificuldades, que cada um de nós tem a sua história, mas que a história do covid é quase a mesma para cada um. Graças a você pude algumas vezes trabalhar, discuti

Carta 20

Brasília- DF, 28 de abril de 2020 Querido Boal!   Estou muito feliz em poder esta falando com você, apesar de todas as dificuldades que estamos enfrentando atualmente em todo o mundo (inclusive aqui no Brasil) com a pandemia do COVID-19 e as medidas protetivas de isolamento social, que algumas pessoas têm furado por puro egoísmo aqui no Brasil. Na esfera política e social, também do Brasil, estamos indo cada vez mais para lugares que não favorecem a massa da população desfavorecida e que luta pelo direito de igualdade. Infelizmente o Presidente eleito não pensa em como ajudar o povo e sim em se beneficiar. A justiça brasileira anda mais devagar do que é o correto e desejado e isso acaba fazendo com que a classe mais necessitada e também os que não estão de acordo sejam massacradas e tenham seus direitos jogados no lixo. E o maior problema disso tudo, é que uma hora ou outra, todos seremos prejudicados. Bom, gostaria de falar para você como está sendo o processo como multiplic

Carta 19

Olá Boal!   Aqui estou informando pelos os seus ensinamentos multidisciplinares, o quanto o Teatro do Oprimido me ensinou não só como educadora, mas também, como um ser na sociedade. Muitas pessoas devem está falando o quanto se sentiram nos seus lugares e terem sido representados tanto no palco quanto na sua forma de ensinamento, eu no meu caso sei onde é o meu lugar, sou mulher branca e cis e saber o quanto temos que ter cuidado de onde estamos e como podemos tratar as pessoas foi um ensinamento para mim. Eu sei dos meus privilégios e sei também sobre como ser uma mulher em uma sociedade totalmente machista tem suas dificuldades, mas eu não percebia e não reconhecia. Não reconhecia os meus privilégios e nem toda uma opressão estava minha volta. Em 2017 estudei em um grupo de teatro do Oprimido chamado Jovens De Expressão com o espetáculo MARGEM DE ERRO, onde trabalhamos todas as suas técnicas, dês teatro Imagem até o Teatro Fórum, com isso percebi o quanto eu ainda estava viv

Carta 18

Caro Boal,               Em primeiro lugar, gostaria de manifestar a minha profunda admiração pela sua pessoa. Sem saber, você tem uma grande importância na minha vida. Você e sua obra me inspiraram de tal forma que há cinco anos sou um multiplicador das técnicas do Teatro do Oprimido aqui em Brasília. Fui treinado por ninguém menos que sua aluna, a querida Silvia Paes, grande atriz, professora e ser humano com quem aprendi e ainda aprendo bastante.             Como já disse, sou multiplicador do Teatro do Oprimido há cinco anos. Trabalho com pessoas portadoras do HIV. Dentre as técnicas do TO, a que mais tenho utilizado com meus alunos é o Arco-Íris do Desejo. Com muito tato, carinho e respeito, fui estimulando os alunos com os jogos e exercícios dessa técnica, e os resultados têm sido maravilhosos. Você precisava ver!             Posso dizer que, hoje, o vírus não define mais nenhum deles – sim, eles se viam dessa maneira, marcados pelo HIV, como se tivessem a sigla carimbada

Carta 17

Caro Augusto Boal:   Eu e meus amigos temos um grupo de teatro do oprimido há cinco anos, e já desenvolvemos diversos trabalhos, estamos montando mais coisas atualmente, nós somos de Planaltina, e trabalhamos com o método do teatro invisível, escolhemos esse método pois queríamos ver como o inesperado atinge as pessoas, e qual a reação delas à desestruturação do que aparentemente estava estruturado? E percebemos que as pessoas gritam, brigam, outras se indignam, outras refletem, algumas descobrem possibilidades, e nesse sentido não há padrão que fique indiferente ao acontecido. A maioria das cenas, gera um agitamento por parte do expectador por ele perceber nas situações apresentadas que existem contradições e incoerência nos valores instituídos em nossa sociedade, e através disso o expectador pode perceber que nem tudo que foi aprendido é um final, e que existem outras possibilidades de ver e viver em sociedade. Trabalhando com o Teatro Invisível, pude perceber que a aprendiza

Carta 16

Querido Augusto Boal,   Nós não nos conhecemos. Então, primeiramente irei me apresentar me chamo Carolina e por volta de cinco anos multiplico o Teatro do Oprimido. O trabalho do meu grupo é voltado para questões sofridas por mulheres desde a infância e os traumas que refletem em quem são hoje. E é muito gratificante mulheres conseguindo ter voz ativa e podendo enxergar certos problemas de uma perspectiva diferente, com o olhar de outro que até mesmo já passou por algo similar. Essa sensação de que não esta só e que as circunstancias podem mudar, conforta. Agora que me apresentei, é um prazer vir falar com o Senhor. Bom, estive pensando e refletindo sobre a situação a qual estamos enfrentando atualmente, foi aí então que resolvi te escrever.  Vou lhe atualizar em relação ao que esta acontecendo. No momento, o Mundo está passando por uma pandemia. Sim, PANDEMIA. Além disso, como se já não fosse o bastante, o Brasil vem enfrentando sérios problemas políticos, com um representante

Carta 15

Caro Augusto Boal:   Me chamo Maria e venho da área da dança. Escrevo-lhe esta carta para agradecer por tudo o que o Teatro do Oprimido representa e vem representando em todo o mundo inclusive em lugares que jamais pensei que poderia chegar. Os frutos que o TO colheu e colhe durante todos estes anos com as metodologias abordadas são inúmeras e merecidas. Falo isso devido a uma experiência no qual relatarei nesta carta. Em uma escola onde atuei durante um mês e meio a partir do estágio da faculdade como professora de teatro/dança dentro de um projeto chamado setembro amarelo pude ver a enorme diferença que o TO fez na vida de alguns alunos que passam ou que passaram por agressões familiares, racismo, depressão, automutilação e tantas outras questões internas. Ligado a isso desenvolvi nesta escola um trabalho a partir do Teatro Imagem. Confesso que durante o inicio do trabalho, a minha intensão era trabalhar com exercícios corporais, pois achava que seria mais tranquilo desmecani

Carta 14

Caríssimo Augusto Boal,   Há cinco anos venho desenvolvendo técnicas do teatro Fórum com um grupo de mulheres moradoras de Sobradinho II, que vivem em situação de carência social. Em cena, essas mulheres se encontram em relacionamentos violentos, mas tem dificuldade de enxergar os maridos como agressores. Durante a interpretação, sempre que há uma cena forte, é uma oportunidade de ilustrar ao opressor a verdade da situação apresentada. E o oprimido pode, de certa forma, mudar a cena / vida. Essas cenas foram feitas com várias mulheres em vários momentos, e em muitas delas o opressor se enxergou projetado no palco. Gostaria de solicitar ao senhor, professor, a oportunidade de continuar expandindo meu projeto com essas mulheres. Agradeço a chance de ser multiplicadora do seu trabalho, que ajuda e tem ajudado muitas pessoas a identificar que se encontram nesses mesmos cenários. Aproveito pra te informar como anda nosso querido Brasil: estamos vivendo um momento de Pandemia e a

Carta 13

Samambaia - DF, Abril, 2020   Querido Boal,    Queria já começar agradecendo. Invertendo a ordem as coisas. É que conhecer seu trabalho, foi de enorme importância na minha vida. Digo, não somente pelos trabalhos que realizo baseado na sua metodologia. Mas a transformação pessoal. Antes de me tornar multiplicadora do Teatro do Oprimido, eu precisei compreende algumas coisas em mim.  Desde criança enfrento muitas repressões simplesmente por existir. Por ter nascido mulher. Por ser afro descendente. E claro, por não compor a classe social mais privilegiada. E tem mais, não são somente as minhas repressões. Carrego ainda, as sentenças de quem veio antes de mim. Sabe como é?! Tô falando de Ancestrais. Sou elas! E transporto memórias. Dentre elas, as dores. É... Aqui dentro!  Sabe Boal, se entender como indivíduo na sociedade é algo muito complexo.  Porque o conhecimento me parece um buraco sem fundo. E saber dói! Tem que se ter muita coragem. Porque uma vez expandido, não tem co

Carta 12

Brasília, 28 de abril de 2020   Caro Boal               Meu querido mestre Boal. Como está as coisas por ai? Já colocou São Pedro para conversar com Oxum? Já avisou a Jesus que os seus seguidores estão distorcendo as coisa. Enfim, meu mestre a saudade bateu aqui e resolvi te escrever, até porque as coisas por aqui não está nada bom ou bem, sei lá. Chegou mais uma doença com um vírus novo (já está no 19) e colocou o opressor e o oprimido todos no barco que pode afundar, mas ainda há barcos melhores para opressores e no seu país natal tem um fascista no poder e Ele quer salvar a economia e nem ai para vida do trabalhador, ou melhor de ninguém. Fico até nervoso só em escrever. Agora mesmo estou escrevendo com uma máscara, iguais àquelas usadas pelos médicos, só pra não ser contaminado pelo vírus. Desculpa meu mestre, tá foda até explicar essa pandemia mundial, é mundial! O mundo todo está dentro de casa e ai meu grupo Moradores Pensantes teve que dá uma pausa. Estou bastante preoc