Carta 15

Caro Augusto Boal:

 

Me chamo Maria e venho da área da dança. Escrevo-lhe esta carta para agradecer por tudo o que o Teatro do Oprimido representa e vem representando em todo o mundo inclusive em lugares que jamais pensei que poderia chegar. Os frutos que o TO colheu e colhe durante todos estes anos com as metodologias abordadas são inúmeras e merecidas. Falo isso devido a uma experiência no qual relatarei nesta carta.

Em uma escola onde atuei durante um mês e meio a partir do estágio da faculdade como professora de teatro/dança dentro de um projeto chamado setembro amarelo pude ver a enorme diferença que o TO fez na vida de alguns alunos que passam ou que passaram por agressões familiares, racismo, depressão, automutilação e tantas outras questões internas. Ligado a isso desenvolvi nesta escola um trabalho a partir do Teatro Imagem.

Confesso que durante o inicio do trabalho, a minha intensão era trabalhar com exercícios corporais, pois achava que seria mais tranquilo desmecanizar o corpo sem que os alunos pudessem se sentir invadidos devido aos temas que eu iria abordar no projeto setembro amarelo. Tendo em vista que estes alunos nunca tiveram acesso à aulas de teatro/dança. Percebi então, que os exercícios que eu iria utilizar dentro de uma perspectiva da dança não seria o melhor caminho a ser traçado para desmecaniza-los devido alguns alunos terem preconceito de terem aulas de dança.

Durante às aulas, a dificuldade de comunicação foi muito grande pois era nítido ver que existia ali o medo de falar, de expressar através da fala, de dizer algo que o incomodassem. Foi então que pensei em trabalhar com o teatro imagem onde eu poderia tirar a imagem e utilizar o corpo como meio de comunicação.  Por meio desta metodologia tive surpresas lindas como por exemplo a entrega dos alunos com relação a expressividade do corpo, pois tudo aquilo que os bloqueavam na fala, o corpo dizia de maneira reveladora que por muitas vezes eu chegava a me assustar.

Ao final dos nossos encontros eu sempre fazia questão de conversar com os alunos a respeito das vivencias realizadas em sala de aula, e muitas vezes os alunos relatavam que se sentiam muito mais encorajados para falar, estavam menos bloqueados e com menos medo de dizer o que sentiam.

            Com todas estas experiências que tive dentro da sala de ensaio com o teatro imagem, dentro do meu planejamento, o próximo passo a ser traçado era o teatro fórum, visto que a inexpressividade já não era um bloqueio enorme infelizmente por por motivos internos da escola não pude concluir este trabalho no qual eu acredito firmemente que ajudaria muito mais os alunos a partir do teatro fórum. Onde as ações que ensaiaríamos iria auxiliar muito mais na quebra de opressões reveladas .

            No entanto, agradeço  a você Boal que por meio do teatro imagem, consegui fazer com que meus alunos pudessem ser menos inexpressivos e que descobrissem formas de se expressar por meio do corpo e não somente por meios da agressividade, da automutilação e de tantas outras questões.  “O teatro é uma arma e o povo é quem deve maneja-la.”