Carta 22
Estimado
Augusto Boal
Após ter tido contato com você no CTO-RJ (Centro de Teatro do
Oprimido) e as técnicas do Teatro do Oprimido, me engajei e identifiquei de tal
forma que procurei levar a prática desses ensinamentos para meu fazer
profissional usando exercícios, jogos e técnicas teatrais elaboradas por você,
este grande teatrólogo que tanto nos ensina e causa orgulho. Nós
multiplicadores, sentimo-nos representados, uma vez que democratiza a arte
teatral permitindo a inclusão e dando voz aos menos favorecidos, aliando teatro
à ação social, oportunizando que realidades sejam transformadas. Por tudo isto
e mais, me tornei, há cinco anos, uma multiplicadora, desenvolvendo o trabalho
em dois grupos distintos na cidade do Rio de Janeiro.
O
primeiro grupo ”Ó Nós Aqui” focado na Educação, reúne pessoas portadoras de
alguma deficiência, interagindo com os ditos “normais”, colocando suas
necessidades, angústias, esperanças na técnica do Teatro Imagem que foi
escolhida por termos no grupo alunos-atores com dificuldade ou ausência total
de comunicação verbal. Usamos a expressão e comunicação através do corpo, pois
sabemos que “o corpo fala”.
Apresentamos
o trabalho “Cidade Deficiente Pessoas D Eficientes”
em praça pública, na “Cidade Maravilhosa” defronte a Câmara dos Vereadores na
Cinelândia. Os vereadores nos assistiam em silêncio e perplexidade ao som de
“Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores” de Geraldo Vandré. Mostramos as
deficiências dessa “Cidade Maravilhosa” que cheia de buracos e carros nas
calçadas, transportes públicos sem adaptação e solidariedade e muitas barreiras
arquitetônicas, impossibilitam o ir e vir de grande parte da população. Foi
imensa a satisfação de ver os transeuntes que paravam para assistir,
aglomerando-se em aplausos, apoio e admiração.
Os parlamentares em sessão solene citavam o espetáculo com veemência e
elogios calorosos prometendo soluções para os problemas mostrados.
Angústias
não tivemos neste trabalho apesar dos parcos recursos, o que o grupo (que
incluía todos os segmentos da comunidade escolar), resolveu com alegria e
participação.
O segundo grupo criado no CTO-RJ é chamado Grupo Terapêutico, onde eu
somo com outros multiplicadores de várias áreas da saúde. Este grupo nos levou
à visita e desenvolvimento de oficinas em sanatórios psiquiátricos com
pacientes e profissionais. Usamos a técnica Arco-Íris do Desejo. Tivemos a
satisfação de perceber mais uma vez que o trabalho que faz o corpo falar
funciona tão bem e até melhor neste caso, do que a fala numa sessão de
psicanálise.
Minha angústia (cito a primeira pessoa, pois não posso falar da
intimidade e de sentimentos alheios) é ver o abandono em que vivem muitos
doentes mentais, por seus familiares amargando a solidão que agrava a doença
mental.
Levamos para as pessoas, na primeira e segunda experiência,
possibilidade de inclusão com direito à exposição de suas vidas e necessidades,
direito à questionamentos através do teatro – O Teatro do Oprimido. Como dizia
um aluno com paralisia cerebral “quem não se expõe não se impõe”. – O Teatro
nos permite!
Por fim, querido Boal, eu, Claudia, virei outra após conhecê-lo.
Passei a ter mais ampla visão de mundo e hoje poder suportar esse nosso amado
Brasil, com suas incongruências políticas – epidemia e epidemias.
Epidemia que aprisiona em casa, milhares de pessoas e nos obriga, aos
que podem, aprender a lidar e dialogar através da tecnologia (eu nunca pensei
que faria isto). Como disse o nosso amigo Chico Buarque, “a coisa aqui tá
preta”.
Você faz muita falta nesta hora.
Grande abraço, com gratidão e afeto.
Sua multiplicadora.
Meu nome é Anna Luísa Atayde, eu sou aluna do 3º ano do Colégio Cor Jesu em Brasília, cheguei a sua carta por meio de um trabalho escolar e gostaria de expressar a minha admiração pelo que você fez na sua cidade. A situação na qual vivem as pessoas com deficiência, de fato, em diversas ocasiões é inferior aos demais, o que dificulta a tão importante inclusão discutida corriqueiramente, o que eu achei mais interessante do seu projeto é a forma como você promeveu a visibilidade desse assunto, não falando por elas mas permitindo que as próprias pessoas que possivelmente se sentem oprimidas pela exclusão se expressem a sua maneira, isso é belo. Um trabalho extraordinário!
ResponderExcluirMeu nome é Brislly Mariana, eu sou aluna do Colégio Cor Jesu, cheguei a sua carta da mesma forma que a aluna Anna Luísa e também gostaria de expressar a minha admiração pela a utilização da arte como meio de expressar os sentimentos das pessoas que possuem alguma deficiência as quais por diversas vezes são ignoradas. A forma que a os problemas relacionados a estrutura da cidade, que incomodam as pessoas diariamente, mas que para as pessoas com deficiência pode ser mais complicado foram evidenciados por eles é realmente incrível. Além disso, gostei também do trabalho do Grupo Terapêutico que mostra que colocar alguém em uma clínica não garante o processo de cura ou de melhora, mas vai além disso, é necessário contato humano e nada mais fácil de proporcionar isso do que a arte.
ResponderExcluirA atuação politica demonstrada é imprescindível à democracia e a inclusão de grupos marginalizados. A forma como utilizou o teatro para ajudar pessoas com dificuldades dando-as uma voz, é inspiradora. Parabéns pelo trabalho, espero um dia ajudar tantas pessoas como você.
ResponderExcluirFelipe P. Barbosa
Cor Jesu
Olá cara escritora da cidade do Rio de Janeiro! O Teatro Imagem, que íntegra estética do Teatro do Oprimido, tem a intenção de ensinar uma transformação da realidade, através do uso da imagem corporal. Primeiramente, um ator decide um tema problema a ser tratado, que pode ser local ou global, mas que de certa forma tenha um significado para a maioria do grupo. Tendo em vista a sua carta pude perceber que o trabalho realizado é realmente incrível e necessário e que através da educação que em todos os sentidos, forma e transforma vidas você consegue incluir pessoas com deficiência e que de certa forma possuem várias inseguranças em âmbito social mais amplo fazendo-lhes enxergar a vida de outra forma, assim como transforma a desigualdade que existe nas pessoas que ao prestigiarem o seu trabalho também mudam sua forma de pensar. Te parabenizo pelo projeto a ser realizado no decorrer de sua vida com serenidade e satisfação!!
ResponderExcluirMaria Laura Rodrigues da Silva
Colégio Espu Coc
Ao fazer análise do seu depoimento, entendi ainda mais a importância que Augusto Boal teve na realização de seus projetos, dentre esses democratizar o teatro. Isso faz-se necessário para que o povo mobilize-se, deixando de ser apenas espectadores para participarem da produção. Dessa maneira, percebe-se que tal mudança é essencial para que as pessoas tenham consciência da capacidade e do poder que elas possuem, podendo lutar e conquistar seus direitos.
ResponderExcluirAna Luiza Lira Barbosa