Carta 26
Prezado Augusto Boal
Em primeiro lugar gostaria de
expor minha admiração pelo Mestre e pela Poética do Oprimido.
Vivi em plena ditadura militar no
Brasil, desde a infância até o início de minha vida universitária. Entre os 16
e 17 anos minha consciência política foi sendo construída e a paixão por
educação e teatro sendo sedimentada. A leitura de As veias abertas da América
Latina, Teatro do Oprimido e Pedagogia do Oprimido me levaram a uma imediata
identificação com a luta social em um Brasil de repressão e censura. Curtia
muito a MPB e música latino americana com Victor Jara, Mercedes Sosa e Violeta
Parra.
Exercitei a militância política
inicialmente no Movimento Estudantil e posteriormente no Movimento Sindical
enquanto que a possibilidade do fazer político por meio do teatro ficou em
segundo plano.
No entanto, desde meu primeiro
contato prático com a metodologia do TO ocorrido na Oficina de Multiplicadores
minha vida se transformou. O Brasil
estava em pleno período de reconstrução da democracia e tanto maio a minha
empolgação e motivação para exercitar a proposta do Teatro do Oprimido.
Nesta ocasião eu já participava
de um grupo de mulheres de uma comunidade do entorno de Brasília que,
coordenado por uma terapeuta holística, tinha por propósito discutir as
inúmeras subjetividades e papéis sociais destas mulheres enquanto faziam
trabalhos manuais de patchwork. Estas mulheres faziam parte de uma ocupação em
uma região de proteção ambiental. A situação era cada vez mais crítica já que
era uma comunidade de mais de 300 famílias. De um lado, os movimentos
ambientalistas reivindicando a preservação ambiental e uma economia
sustentável, e de outro o estado exigindo a desocupação imediata.
Foi neste contexto que propus ao
grupo de mulheres formarmos um grupo de teatro para discutir novas formas de
comunicação com os atores envolvidos naquela realidade, especialmente com os
líderes ambientalistas, que naquele contexto seriam os opressores dos moradores
da comunidade.
Inicialmente fizemos um trabalho
de sensibilização para que os envolvidos pudessem ter contato com uma visão
holística de ecologia que envolve a ecologia pessoal, social e ambiental.
Por meio da técnica do Teatro
Fórum, fizemos um levantamento e evidenciamos as principais práticas que mais
estariam degradando cada uma dessas ecologias. No nível pessoal, foram
levantados aspectos da opressão de gênero, com a mulher oprimida pelo homem. Quanto
à ecologia social, foi levantado o papel da escola que atende as crianças da
comunidade e o papel dos professores e diretores para promover mais
oportunidades para atividades culturais e de lazer. Quanto ao meio ambiente, foi destacada a
questão da produção e descarte do lixo.
A partir dos diversos Teatros
Fórum vivenciados e do envolvimento da comunidade, houve uma transformação da
realidade para uma melhor qualidade de vida nas esferas pessoal, social e
ambiental. A identificação do papel de opressor e oprimido foi um desafio mas a
técnica foi muito apropriada, na medida em que estratégias puderam surgir dos
espectadores/atores. A melhoria no processo de comunicação com os
ambientalistas e com os representantes do Estado propiciaram compromissos mútuos
a serem cumpridos.
Prezado Boal, esta foi uma longa
e transformadora experiência tanto para a comunidade quanto para mim. Como bem
disse, o teatro é apenas um ensaio para a ação na vida real. Em outras
palavras, o fim é o começo.
Criamos uma rede de multiplicadores que se
juntaram ao projeto para vivenciarem o Coringa. Vivemos uma rica troca de
ideias, impressões, angústias e objetivos comuns. As mulheres do grupo de terapia inicial foram
essenciais para a implementação do TO e uma rede de solidariedade se formou.
É preciso dizer que durante este
período tivemos os anos mais democráticos do Brasil, com vigorosas políticas
públicas para moradia, emprego, luz, e melhores condições sócio-econômicas da
população em geral. No entanto, observo que os trabalhos de conscientização e
de práticas pedagógicas de base foram modestos, muitas vezes subestimados e
esquecidos. Essas práticas políticas são fundamentais para que as políticas
públicas não sejam vistas como assistencialistas, mas como direito do povo
brasileiro. Nos casos em que foram aplicadas, como no caso do MST, muitos
direitos foram conquistados mesmo que à força de muita resistência.
Há sete anos o Brasil tem
retrocedido em muitos aspectos. Uma onda de conservadorismo tem pautado os
discursos e na prática a violência tem crescido. Talvez em decorrência desta
ausência de trabalhos de base. Mas quero crer que a aplicação de metodologias
tão potentes como o TO ou a Pedagogia do Oprimido, gestadas por brasileiros
brilhantes e reconhecidas mundialmente, poderão ser usadas cada vez mais na
resistência ao Estado opressor e ao sistema econômico perverso que prioriza o
lucro em detrimento do ser humano.
Conforme nos ensinou, nossa
sociedade é pré humana e o TO busca humanidade ligada à solidariedade. E quanto
de humanidade nós estamos precisando!
Com minha gratidão e admiração.
meu nome é mateus, aluno do corjesu, achei sua historia muito interessante principalmente por que você viveu a ditadura militar, e vendo tudo o que esta acontecendo agora, é importante você falar como a ditadura foi real e tudo o que aconteceu durante ela, que sua voz e expressões sejam divulgadas mais com o seu grupo
ResponderExcluirsou o aluno do 3A do colégio corjesu joão lucas holanda da silva. Achei muito interessante a forma como é expressa a história de uma pessoa que viveu na ditadura militar, e toda mudança que ocorre no teatro durante essa época.
ResponderExcluirAo fazer uma análise da carta, percebe-se a importância da aplicação dos métodos do TO, que parte do princípio de que a linguagem teatral é a linguagem humana que é usada por todas as pessoas no cotidiano. Diante disso, as técnicas teatrais estimulam a discussão e problematização de assuntos políticos, tal como a onda de conservadorismo, citada na carta.
ResponderExcluirArthur Cavalcante Lima
Com a leitura da carta consegui ver como a ideologia do teatro do oprimido, na luta contra a censura a repressão e a ditadura militar, teve influência na vida desta pessoas e o quão importante foi a discussão destes problemas sociais.
ResponderExcluirHyan Praxedes
Achei legal que o projeto que se preocupa tanto com o âmbito social, quanto com o âmbito ambiental, também como o mesmo surgiu, mediante a reconstrução da democracia e a busca pelo uso uso pedagógico do Teatro do Oprimido como forma de libertação de um sistema político de repressão.
ResponderExcluirAlexia Alves, Colégio Cor Jesu.
Augusto Boal visava a democratização do acessoa ao teatro com o teatro do oprimido, além disso, essa modalidade do teatro repreendia a censura e tentava mostrar a forma real do mundo para todas as pessoas. Nessa carta, fica ainda mais visível a importância deste tipo de projeto, já que durante o referido período que foi a ditadura, a censura impossibilitava esse tipo de expressão e oprimia as pessoas, as deixando alienadas acreditando apenas no que o governo queria que elas acreditassem
ResponderExcluirAlana Marques
Lendo esta carta, é possível perceber a importância que a liberdade de expressão tem na vida das pessoas, principalmente durante um período de tanta repressão como foi a ditadura militar. É muito interessante ler sobre a experiência de alguém que viveu isso, e também sobre um projeto que possibilita uma rica troca de conhecimentos e aprendizados entre as pessoas.
ResponderExcluir-Bruna Gonçalves de Souza Lima
Essa carta é interessante pois mostra como a liberdade de expressão é importante para alguém que viveu em meio a ditadura militar e como essa pessoa se inspirou de verdade a se expressar por meio do teatro e encoraja outros a fazer o mesmo, dá para ver como o TO mudou essa pessoa
ResponderExcluir- Guilherme Sousa Lopes
Achei bastante interessante e legal a iniciativa que tiveram com esse projeto quando criaram o grupo, com o intuito de usar o teatro para lutar contra a censura e outros diversos motivos durante a ditadura militar, mostrando que tem como fazer a diferença
ResponderExcluir- André Moreira Madriles
Essa carta, é extremamente interessante, o autor retrata através de sua experiência na ditadura a luta social em um Brasil de repressão e censura, sendo essencial para o entendimento sobre tal momento e todos os grandes desafios da época. E que a partir do Teatro Oprimido as pessoas tiveram a chance de se expressar sobre grandes problemas sociais e ambientais, algo que não era nada comum, já que tudo era censurado pelo poder político. Esse projeto é essencial e se faz de grande importância.
ResponderExcluir- Ana Clara Araújo
Parabéns pela produção da carta! Foi muito importante você retratar através das coisa que já viveu na época da ditadura, a luta social no Brasil que vivemos hoje, um Brasil que vem reprimindo à população, através de seus políticos e seus ideais. E através do teatro do oprimido as pessoas vão poder expressar seus problemas. Isso é muito bom! Parabéns!
ResponderExcluir- Daniel Alves Zacarias
Parabéns pela produção da carta , gostei pois retrata a Ditadura Militar, a luta pela aceitação e retratando o Brasil, expressões, situação política. e os teatros são importante para aprendemos mais sobre as obras de Augusto boal
ResponderExcluirParabéns colegio Anchieta.
Nessa carta, a história da autora demonstra como o Teatro do Oprimido (TO) está ligado a movimentos sociais. Num primeiro momento, vemos a origem do TO num contexto de ditadura, onde a censura oprime a liberdade de expressão. Já no segundo momento, a construção política feita durante esse período estimula a remetente a criar um grupo teatral para estabelecer a comunicação entre uma comunidade, ambientalistas e o Estado. A princípio, as apresentações ajudam a estabelecer uma colaboração mútua, mas a autora se queixa da atual impotência desse recurso. O conflito sobre as áreas de preservação ambiental cresce, principalmente por conta das questões econômicas. Nesse momento, os setores agrário e pecuário, justamente com um Estado que não tem políticas de proteção ambiental, ameaçam reservas indígenas e grandes áreas florestais.
ResponderExcluirAna Beatriz- Anchieta
Parabéns pela produção da carta , gostei pois retrata a Ditadura Militar, a luta pela aceitação e retratando o Brasil, expressões, situação política. e os teatros são importante para aprendemos mais sobre as obras de Augusto boal
ResponderExcluirParabéns
Gabrielly Gaspar 3 série ensino médio -colegio Anchieta.