Carta 23
Ao
Sr. Augusto Boal.
Fui muito influenciado
por suas teses sobre teatro do Oprimido e dedico meu tempo e estudos a
multiplicar esse discurso na sociedade. A cinco anos aproximadamente, venho
trabalhando numa certa metodologia de reeducação social utilizando dos
princípios básicos do Teatro do Oprimido. Devo dizer que tenho tido resultados
bem otimistas em comparação ao que esperava quando o começamos. Tudo se inicia
num momento em que discursos de ódio direcionado às “minorias” podiam até ser
vistas como um típico exagero, mas a qualquer reclamação, levante ou
resistência contra essas injúrias era prontamente apontada de “mimimi” (uma
onomatopeia muito utilizada hoje para dizer que a pessoa reclama sem um motivo
minimamente convincente).
Isso ter acontecido
está intrinsecamente ligado aos ideais de um homem que subiu à liderança de
nosso governo nacional e trazia consigo pensamentos ignorantes sobre as castas
mais baixas, porém o efeito no povo foi de um sentimento nacionalista que me
atordoa ainda agora.
Sem estender ainda mais
esta carta. O método em que venho trabalhando e desenvolvendo ao mesmo tempo é
voltado para os jovens das comunidades do entorno de Brasília, o Quadradinho DF
(distrito Federal). Acredito que se puder fazê-los entender a importância de
cada indivíduo, dar um fim a pré-conceitos tão banais terá uma chance real. Sei
que soa um discurso idealista utópico, mas sem esse pensamento eu já havia de
desistir a muito tempo.
Na primeira etapa do
método é entregue aos jovens um questionário com várias questões de cunho
moral, isso para sabermos como cada um pensa e interage com o mundo.
A segunda etapa é
separá-los em grupos. Cada grupo fica sobre a responsabilidade de um mediador e
uma pequena equipe de apoio. Essa equipe trará um tema a ser debatido, mas os
jovens é quem o farão. Cabe ao mediador o trabalho de questionar, indagar e até
provocar o pensamento e crítica do grupo, devem manter a ordem entre os
discursos desde que não interfiram no raciocínio do jovem. Dependendo do quão
interessado os jovens se mostrem nessa etapa pode durar até três dias.
A terceira etapa talvez
seja a mais complicada, acontece em paralelo ao anterior. É necessário que se
crie uma atmosfera saudável durante as atividades, o respeito mútuo precisa
prevalecer sob as adversidades, o mediador deve deixar muito claro para seu
grupo que aquele espaço é um lugar de liberdade espontânea, ou seja, eles podem
e devem dizer o que pensam em voz alta, porém isso vale para todos. Aquele que
fala deve aprender a ouvir, aquele que fere, pode ser ferido e se puder amar,
também será amado. “Você é inteiramente responsável por aquilo que cativas.”
Perdoe-me que tomar
vosso tempo com meus devaneios. Espero que esta carta o encontre bem em
qualquer tempo!
Ana Luisa S. Marçal - 3ª Colégio Cor Jesu
ResponderExcluirIniciativas como essa são muito necessárias, ainda mais no governo atual que não valoriza e inferioriza os mais diversos artistas e grupos minoritários. Essa democratização teatral que você promove para populações do entorno do DF é importantíssima já que proporciona um ambiente onde esses jovens possam ser protagonistas de alguma forma. Creio que grandes transformações sociais partem do diálogo saudável possibilitado por projetos como o seu. Espero que esse discurso, colocado por você como idealista e utópico, torne-se cada vez mais real.
Parabéns!
O texto traz uma ideia muito importante que não e debatida nas escolas que e margem social e isso e passo importante para um mundo melhor mesmo não concordando com a primeira parte separar os jovens com pensamentos diferentes pois o importante para a compreensão e a conversa mas a ideia de fazer o jovem pensar fora dos vestibulares e mostrar o mundo e a ele e importante.
ResponderExcluirDavid Leonel, 3-EM ESPU COC
Ana Clara Gonçalves - Espu Coc
ResponderExcluirOlá escritor! Como uma mera leitora de sua carta, posso te dizer com honra que fico feliz de você ter compartilhado seus devaneios que na realidade são problemáticas bem importantes e que você está levantando de maneira artística.
Ao que vemos o cenário político-social do Brasil, temos situações graves que são consideradas banais por parte da população, como você mencionou. Temos crimes como o de João Pedro, que foram totalmente ignorados por pessoas que se veem fora da “militância” enquanto essa é a que luta pela vida das minorias e a persistência pela busca de direitos mínimos.
A situação é triste mas pessoas como você, são a esperança. Obrigada pelo seu trabalho, por indagar e trazer a reflexão como um dia Sócrates fez pela maiêutica. Espero que continue utilizando de Boal como luta contra as mazelas que você se opõe. Parabéns!
O projeto de fazer o povo brasileiro pensar, raciocinar e debater por si mesmo é algo fantástico e por mais utópico que seja, será maravilhoso se der certo, uma coisa que falta no nosso sistema de ensino é a oportunidade de trocar e debater idéias, felizmente vários professores fazem isso por si mesmos, mas isso é algo que devia estar realmente implementando no sistema educacional, não algo que os professores devem "tapar".
ResponderExcluir- Guilherme Sousa Lopes
Olá caro escritor! O Teatro do Oprimido, de acordo com o próprio Boal, pretende transformar o espectador que assume uma forma passiva diante do teatro aristotélico, com recurso da quarta parede, em sujeito atuante, transformador da ação dramática que lhe é apresentada, de forma que ele mesmo espectador, passe a protagonista e transformador da ação dramática. É incrível como você consegue transparecer esses aspectos através de seu trabalho com os jovens, afinal é extremamente importante desenvolver atividades que proporcionem o conhecimento da realidade das classes menos favorecidas, as conhecidas "minorias" que são tanto oprimidas pela sociedade, mostrando-lhes o verdadeiro valor das pessoas independente de qualquer aspecto que se tenha. parabéns!!!
ResponderExcluirMaria Laura Rodrigues da Silva
Colégio Espu Coc