Carta 20
Brasília- DF, 28 de abril de 2020
Querido Boal!
Estou muito feliz em poder esta falando com você, apesar de todas as
dificuldades que estamos enfrentando atualmente em todo o mundo (inclusive aqui
no Brasil) com a pandemia do COVID-19 e as medidas protetivas de isolamento
social, que algumas pessoas têm furado por puro egoísmo aqui no Brasil.
Na esfera política e social, também do Brasil, estamos indo cada vez
mais para lugares que não favorecem a massa da população desfavorecida e que
luta pelo direito de igualdade. Infelizmente o Presidente eleito não pensa em
como ajudar o povo e sim em se beneficiar. A justiça brasileira anda mais
devagar do que é o correto e desejado e isso acaba fazendo com que a classe
mais necessitada e também os que não estão de acordo sejam massacradas e tenham
seus direitos jogados no lixo. E o maior problema disso tudo, é que uma hora ou
outra, todos seremos prejudicados.
Bom, gostaria de falar para você como está sendo o processo como
multiplicadora do Teatro do Oprimido. E que experiência louca… Pensar que tudo
isso começou com apenas uma pesquisa de campo para elaboração do meu Artigo
Acadêmico e hoje é uma das metodologias que mais utilizo nas abordagens que
venho trabalhando.
Fazendo uma retrospectiva para que possa entender onde estamos
caminhando atualmente… Em 2017 iniciei uma pesquisa para um artigo acadêmico na
Faculdade de Artes Dulcina de Moraes e o público alvo que recebi para fazer
meus trabalhos eram alunos do Ensino Médio do segundo ano e estudavam em uma
instituição da Rede Pública de Ensino.
A proposta inicial era trabalhar mediação com obras que cairiam no PAS
com esses alunos para desenvolverem um senso crítico e que vivenciassem suas
próprias experiências para terem suas “Revelações” como Robert Willian Ott
define na sua proposta da Image Watching e fazer com que a partir de todos os estímulos
dados aos estudantes, perceber e deixar que eles tivesse a “oportunidade de
revelar seu conhecimento a respeito de arte por meio de um ato de expressão
artística”.
Depois de todos os desdobramentos (ou revelações como Ott define),
conversamos sobre as diferentes perspectivas e sentimentos que foram
despertados assistindo aos colegas. E foi nesse momento que pude notar que a
participação da turma foi muito grande e a vontade de falar e até mesmo de
propor diferentes desfechos começaram a surgir.
Como eu já conhecia alguma de suas técnicas, comecei a pensar em como
poderia trazer esses estudantes para mais próximo de diferentes metodologias
cênicas. Eu já conhecia alguns jogos e alongamentos que você escreveu no livro
“200 jogos para atores e não atores com vontade de falar algo através do
teatro” e pensei que essa seria uma grande oportunidade para executar uma ou
algumas das suas técnicas.
Propus aos estudantes adiantarmos o conteúdo que seria ministrado no
semestre seguinte sobre T.O. e olhar para essa nova abordagem e todos adoraram.
Fiz uma pequena apresentação sobre você e sobre sua história e metodologia e
todos os alunos ficaram muito animados.
Então reformulei o plano de aula e começamos a conhecer esse novo campo
de estudo. E depois dos alongamentos e aquecimentos vocais feitos diariamente
nas aulas de teatro, propus um jogo para começarmos a “aquecer”. E a coisa foi
ficando boa e nas aulas seguintes começamos a falar e realizar o Teatro Fórum
em sala de aula com temas voltados a escola que eles estudavam, com pergunta
tema: “O que oprime você na escola que estuda?”
Conversamos, encenamos e no final partimos para algo que eu penso ser
uma pequena amostra do Teatro Legislativo, ao qual esses alunos levaram as
possibilidades de mudanças e levaram como proposta para o Grêmio Estudantil
para que a comunidade escolar discutisse e melhorasse o que fosse necessário e
cabível.
Durante as aulas falamos de temas que ligavam até para o âmbito de
outras disciplinas como por exemplo, conversar sobre a Estrutura da Árvore do
T.O. e entender o que seria a ética e as raízes da árvore e debater sobre
Direitos Humanos, História, Sociologia, entender o contexto que se viveu para
chegar onde estávamos e como nossas próximas escolhas seriam influências
diretas para o futuro.
Hoje, em 2020, penso como estão esses estudantes e como foi para eles
essa vivência para o crescimento pessoal de cada um. Porque entendo que a Arte
é Cultura e Política e assim como Ana Mae Barbosa diz “não podemos entender a
Cultura de um país sem conhecer sua Arte”. Tenho muita curiosidade para saber o
que esses estudantes levaram para a vida deles e como eles interpretam todas as
coisas que estamos passando atualmente.
Nesse momento de tanto estresse, medo, angústia… é maravilhoso poder
compartilhar algumas palavras com você sobre arte que é o que nos alimenta
desde sempre. Muito obrigada por ser tão genial e pensar, estruturar e
principalmente educar para que seja o início de um novo começo.
Você para mim, foi e sempre será uma inspiração e se depender de mim,
farei jus ao seu legado. Porque como você já disse “artista que dedica sua arte
à vida é muito inspirador” e eu quero ser essa artista.
Ser professora, estudante, multiplicadora, cidadã e artista vem
carregado de deveres e direitos que muitas vezes são difíceis de serem
conquistados e construídos, mas sei que basta uma semente plantada no lugar
certo para que ela se multiplique e floresça. E quando menos notarmos, teremos
uma floresta inteira com cidadãos que lutam pelos direitos de igualdade e que
os oprimidos de toda a sociedade entenda sua força para ajudar a levantar todos
os outros.
Porque juntos somos fortes e uma andorinha só não faz verão, mas ela
pode compartilhar suas experiências com várias outras e mostrar o lindo
horizonte que tem atrás das paredes da caverna.
Saudades de você Boal!
Beijos e abraços.
Iago Colégio corjesu
ResponderExcluirMuito daora, triste estarmos em tempo de pandemia e não poder fazer um laboratório como esse do teatro do oprimido. Seria muito legal ver na um pouco na pratica o que estou estudando.
Clarissa, do Cor Jesu. eu adorei a ideia de trabalhar com alunos do ensino médio, pois geralmente só ficamos presos em uma sala de aula anotando conteúdos e mais conteúdos, sendo que experiências práticas são muito mais compreensíveis e ajudam bastante no aprendizado.
ResponderExcluirÉ interessante entender que por meio de tudo que estamos vivendo, podemos nos reinventar, uma simples atitude,prática, muda todos os costumes. Essas experiências nos faz a ter forças para lutar.
ResponderExcluirMel Azevedo, estudante do Colégio Cor Jesu
João Ricardo, aluno do colégio Corjesu
ResponderExcluirAcho extremamente importante a execução prática em sala de aula daquilo que estamos estudando, assim saímos de todo aquele processo monótono de anotação. Concordo que arte é o que nos alimenta, principalmente nessa pandemia enquanto "presos" dentro de nossas casas o que nos distrai é a arte!
A carta tras uma ideia bastante inovadora sobre o taetro do oprimido em que ele pode ser executado dentro da sala de aula, por meio da aplicação do professor, sobre questoes que assolam o mundo atual, com problemas raciais, doenças virais e varios outros. O texto tambem tras a ideia de que " arte que é o que nos alimenta desde sempre" que se torna real, ao ver que tudo ao nosso redor tem um carater artistico.
ResponderExcluirJoao Victor Raulino
Achei incrível o projeto com os alunos, ter a oportunidade de estudar de uma forma mais dinâmica e divertida com certeza deixou o conteúdo mais leve e compreensível. Além da oportunidade que eles tiveram de dar suas queixas sobre algo os oprimiam.
ResponderExcluirAlexia Alves, colégio Cor Jesu.
Parabéns pela produção da carta! Foi muito importante você retratar através das coisa que já viveu na época da ditadura, a luta social no Brasil que vivemos hoje, um Brasil que vem reprimindo à população, através de seus políticos e seus ideais. E através do teatro do oprimido as pessoas vão poder expressar seus problemas. Isso é muito bom! Parabéns!
ResponderExcluir- Daniel Alves Zacarias