CARTA 2

CARTA 2
Olá Boal!

    Envio essa carta para me apresentar enquanto seu multiplicador do método, desenvolvido por você, Teatro do Oprimido. Há 5 anos me permiti estudar formas, técnicas, didáticas, criações e produções nesta esfera em que se questiona sobre o lugar do oprimido e também do opressor, no contexto social ao qual estou inserido, primeiramente. As compreensões que tive através dos experimentos no Teatro Fórum, Invisível, Jornal, Imagem e outras reverberações destes, me trouxeram reflexões transformadoras como artista, arte-educador e produtor cultural. Mexeu nas estruturas das minhas inspirações e aspirações. Uma nova perspectiva de mundo se construiu.

    Te conheci quando em meu primeiro semestre, na Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, a professora
Silvia Paes, sua maior multiplicadora do Centro-Oeste, me orientou na matéria "Prática de Palco". Ela nos
ofereceu a missão de uma montagem da dramaturgia criada por você, "Murro em Ponta de Faca". O desafio foi tanto que fez jus ao nome do espetáculo. Era uma turma com uma diversidade imensa, de ideias, vivências, regionalidades, experiências e muitas outras. Essas diferenças tornou a proposta que envolvia curingamentos dos personagens, já que o número de matriculados era superior a 30 pessoas e a de personagens de no máximo 6, em uma grande oportunidade de entender que na proposta da sua prática não existe zona de conforto como base.

    Foi uma grande oportunidade, para a partir daí adentrar nas suas ideias fenomenológicas da prática teatral e espetacular em que o espectador não fica em posição passiva do que está sendo apresentado em um espetáculo. O protagonismo do espectator me impressiona sempre que tenho a chance de poder contemplar qualquer provocação construída por qualquer de suas multiplicações.

    Atualmente estamos vivendo momentos tensos em consequência de uma história que só nos mostra o
quanto a opressão se tornou o método mais perverso do percurso humano em seu desenvolvimento
sociológico. Aqui no Brasil, nossa terra, temos um presidente eleito democraticamente, que me faz questionar sobre as bases culturais religiosas, de uma moral herdada e que por algum tempo até se camuflou de paixão às diversidades étnicas, de ideias, sexualidades e religiosas. Mas assim que um representante dessa tal perversidade enraizada em nossa rotina histórica, se posicionou como líder, seus seguidores assumiram suas reais posturas fascistas, defendendo a retirada de direitos de acessibilidade nessa luta de classes e posições antropofagicas. Como disse Cazuza: "A burguesia fede" por aqui. Porque se em outros tempos existiu uma elite que detinha o conhecimento e o poder econômico, por aqui existem ricos ignorantes, soberbos, prepotentes, avarentos e excludentes, manipulados por um chefe neoliberalista do imperialismo norte americano.

    Como um de seus multiplicadores, assim pretendo me posicionar e trabalhar no mais essencial do ser
humano, para observar ideias de diplomacia ou extrema fúria, e propor uma movimentação dentro dessas
emoções e estruturas tão edificadas nesse alicerce escravista, machista, eurocentralizado, teocentrista e muitas outras opressões formadas nessas jornadas antropológicas, para pelo menos abalar o sistema de alienação existente nos pensamentos.

    Sou grato por compartilhar seus pensamentos e criações em um nível de repercussão social. Sua energia
ainda pulsa nas produções mundiais, por parte daqueles que não se contentam assim como eu, artista,
homossexual e periférico.

Comentários

  1. achei interessante o seu crescimento no teatro do oprimido, e também concordo sobre suas atitudes contra o machismo, escravismo e as demais opressões e alienações

    Fernando, aluno do Cor Jesu

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  2. É interessante ver como que o Teatro do Oprimido (mesmo tendo sido desenvolvido décadas atrás) se faz tão atual e necessário. Assim como propunha o Teatro de Arena, o teatro tinha que ser popular, dar voz e espaço ao povo. A dramaturgia pode e deve ser libertadora, levantando questionamentos sobre a sociedade e o sistema no qual estamos inseridos.
    Ricardo Augusto Alves França

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  3. É interessante ver como que o Teatro do Oprimido (mesmo tendo sido desenvolvido décadas atrás) se faz tão atual e necessário. Assim como propunha o Teatro de Arena, o teatro tinha que ser popular, dar voz e espaço ao povo. A dramaturgia pode e deve ser libertadora, levantando questionamentos sobre a sociedade e o sistema no qual estamos inseridos.
    Ricardo Augusto Alves França

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